O rio Tejo é um dos mais importantes rios do nosso Portugal. Muito se podia falar sobre esta dádiva da natureza, que começa em Espanha e termina em Lisboa. Concentremo-nos na parte do rio que banha a capital Lisboa, que inicia-se na foz do rio Trancão e termina nas bordas de Algés.
As grandes intervenções que permitiram o acesso dos lisboetas e de quem os visitam ao estuário do Tejo, recuam ao tempo do Estado Novo, com a requalificação da murada de Belém; à Expo Lisboa 98, e recentemente o passeio marítimo que vai do Terminal de Cruzeiros até ao Cais do Sodré; no meio destas intervenções existem áreas concessionadas à navegação comercial e contentorizada, sendo as principais a SOTAGUS (Xabregas) e a LISCONT (Alcântara Mar).
Até ao momento tem existido um zig-zag sobre o que fazer sobre as áreas do Porto de Lisboa que estão livres para aproveitamento da cidade, recorde-se que as áreas que não estão afectas à actividade portuária (competência do Porto de Lisboa) são da competência da Câmara Municipal de Lisboa.
Os projectos existentes passam por concessionar espaços a privados para marinas, como recentemente o existente cais para embarcações de recreio no Terreiro do Paço, e ao que parece, está em adiantado estado de conversações o novo cais para iates de grande porte (mais de 60 metros) na Matinha, onde o antigo barco Funchal servirá de hotel de 5 estrelas.
Onde fica a população de Lisboa neste cenário? Ficará apenas como espectadora destes empreendimentos apetitosos para grandes capitalistas usufruírem e o povo assistir? Este não é o caminho! Queremos uma frente ribeirinha e marítima para todo o povo de Lisboa usufruir. Mas como?
Uma solução protagonizada pelo PS, em tempos, era aproveitar a Doca do Poço do Bispo para uma grande piscina de ondas (à semelhança das já existente piscinas atlânticas, em concelhos contíguos, mas esta com ondas), ou seja um empreendimento infantil na linha de uma Lisboa Parque Disney, onde só podia ser utilizada nos meses de Verão, ficando o resto do tempo inactiva e sem aproveitamento.
Uma proposta válida que está incluída no Programa Autárquico para Lisboa do BE é o aproveitamento da Doca do Poço de Bispo para que sirva os interesses da população de Lisboa, em particular, a Zona Oriental da cidade, com a construção de uma piscina olímpica e outras infraestruturas desportivas de apoio a actividades náuticas não motorizadas como natação, polo aquático, mergulho, remo, canoagem e vela. E, envolvendo as forças vivas de Lisboa, a autarquia, as juntas de freguesia, os clubes desportivos existentes, escolas e associações.
TEJO: que futuro?
Como já foi referido, o Tejo – Lisboa encontra-se privatizado ao sabor dos investimentos privados.
À semelhança de outros problemas estruturantes que se colocam a Lisboa as concessões para o transporte marítimo de mercadorias é um dossier que sofre avanços e recuos. Por exemplo, existe um consenso entre governo central e autarquias sobre a deslocalização das actividades portuárias de mercadorias passarem para o Barreiro, no entanto, a ideia não passa do papel e não tem decisão. Com certeza à espera das decisões dos interesses imobiliários sobre o destino a dar às áreas portuárias desafectadas.
Com a pandemia, o estuário do Rio Tejo viu a actividade portuária reduzir-se, substancialmente, com reflexos nas entradas e saídas de navios de carga e de cruzeiros. Com isto a ecologia aquática veio enriquecida com novas espécies e mais quantidade das já existentes. Esta situação provou que um rio despoluído tem benefícios incomensuráveis.
Com o desconfinamento é natural que a pressão turística sobre Lisboa vá gradualmente aumentando, ultrapassando, com o tempo, os níveis de turistas anteriores. Esta situação irá trazer um aumento de carga sobre o estuário do Tejo. Como podemos balancear ou arranjar um meio termo aceitável entre a carga turística, que mais tarde ou mais cedo, chegará ao nosso país, e com maior propriedade a Lisboa? A resposta não é fácil, mas uma certeza terá que presidir que não é aceitável um Tejo poluído. O que podemos fazer? Desde logo limitar a circulação de embarcações que se movem a gasóleo e fomentando as que sejam movidas à vela e com recurso a painéis solares. Limitando a navegação dos navios de cruzeiro, numa primeira fase, enquanto permanecessem em porto usassem obrigatoriamente energia eléctrica, e mais tarde a proibição de entrada em porto de navios que se movessem com recurso a energias fosseis.
O estuário do TEJO é uma riqueza em que TODOS podem tirar benefícios, como o emprego e o lazer, haja inteligência e POLÍTICA ECOSSOCIALISTA para levar a cabo, contrariando os apetites e a ganância capitalista.
Roma e Pavia não se fizeram num dia, as grandes revoluções sociais e agora as ambientais, também não. As soluções tecnológicas existem, falta apenas aplicá-las e romper com os paradigmas capitalistas, com base na apropriação do espaço público alimentado com as energias fósseis à base do petróleo.
* João Luís
O João vem aqui denunciar uma situação grave que ameaça complicar-se ainda mais, à medida que se acastelam as pressões turistico- imobiliárias sobre a chamada zona ribeirinha. Nos tempos em que a mesma era da competência da AGPL, o problema quase não se punha, pois simplesmente não se podia construir. Quando foi decidido liberalizar, aí os patos-bravos do betão afiaram os dentes e lançaram-se avidamente sobre a carniça. O ponto nunca pode ser arranjar o P.Bispo mais assim ou assado. Tem de haver uma concepção de conjunto e essa deveria ser a devolução da zona aos lisboetas para poderem ter acesso livre ao estuário e suas margens. Qualquer dia, o Zé fica reduzido a olhar as águas lá ao longe e os promotores imobiliários a esfregar as mãos. É lamentável como as sucessivas edilidades tenham tido o enorme desprezo pelas pessoas que as suas políticas demonstram. Lisboa deve ser a única cidade do mundo a dispor de uma apetecível avenida marginal que vem de Belém até ao C.Sodré e aí termina abruptamente, sem possibilidade de ir a lado nenhum, a não ser voltar para trás. Quem concebeu e realizou esta vergonha devia estar atrás das grades.
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