Fascistas não são bem-vindos!

O anúncio da presença de Marine Le Pen no almoço de campanha de André Ventura no próximo dia 10 de Janeiro, deve-nos envergonhar e preocupar e, ao mesmo tempo, mobilizar e unir para dizer sem medo que não é bem-vinda.

Le Pen, é uma espécie de “guru” da extrema-direita na Europa, declaradamente anti-imigração, defensora do regresso da pena de morte (só a titulo de exemplo), e apesar de ter moderado as referências ao antissemitismo é intrinsecamente nacionalista em vários domínios, seja do ponto de vista securitário e controlo de fronteiras, seja pelo protecionismo patriótico e racial, sugerindo mesmo implodir a Europa por dentro, pondo fim a qualquer ideia de Europa dos Povos, multicultural e tolerante, para ela será cada um no seu quintal…

Sendo no plano internacional amiga do seu congénere André Ventura, virá a Portugal mostrar que a extrema-direita se apoia mutuamente, numa tentativa de muscular a sua campanha. Aliás, reproduzindo perfeitamente a estratégia de Steve Bannon (para-ministro da propaganda de Trump), com o objetivo de criar uma internacional neo-fascista, num intercâmbio de solidariedade, seja aqui, em Itália com Salvini, na Hungria com Orbán ou no Brasil com Bolsonaro.

Nesta estratégia, vale tudo, até as profundas contradições na defesa exacerbada dos seus nacionalismos, pois quando Le Pen se opôs frontalmente contra o ensino de português aos filhos de emigrantes em França, referia-se também aos portugueses que Ventura jura defender, os portugueses comuns que emigraram à procura de uma vida melhor. Em que ficamos então? Será que Ventura irá defender a abolição do ensino do francês em Portugal ou defender os portugueses comuns em França?

Não se sabe, mas será certamente aquilo que for mais populista em determinado momento, para eles não interessa a coerência, mas sim fazer capa de jornal, com a criação de factos numa lógica de consumo rápido, tipo política MacDonalds.

Este namoro, no próximo dia 10, irá servir para tentar empolar a mediatização em torno da normalização do discurso de André Ventura. Um discurso bafiento, gasto, profundamente incoerente e mentiroso, que incita ao ódio, que divide para reinar, mas que vende.

Sabemos que vende e, por isso, temos a responsabilidade democrática de mostrar que somos muitos mais e vender que aqui “fascismo nunca mais”. A esquerda, os democratas, antifascistas, antirracistas, feministas… devem organizar-se sem sectarismos e promover a receção a Le Pen, para lhe dizer que não é bem-vinda.

Não admitimos em democracia quem a quer destruir, quem se aproveita dos mais fracos, dos de baixo, imigrantes e minorias, dos desesperados e iludidos com promessas de que o “elevador social” funciona, para consolidar uma agenda securitária, racista e xenófoba ao serviço do grande capital, branqueando o brutal falhanço do capitalismo e da globalização financeira.

Devemos reagir ao espectro fascista, mas é urgente responder e a resposta só pode ser política. Na defesa intransigente de uma profunda transformação social, anticapitalista, que defenda quem trabalha, com um Estado social que responda às pessoas, serviços públicos fortes, controlo de sectores estratégicos, com uma produção sustentável, construindo uma sociedade ecossocialista. Um caminho que não se poderá fazer com o abandono da via revolucionária, não se poderá fazer se nos colocarmos numa posição recuada e reformista, limitando-nos a gerir o próprio sistema que tanto criticamos. Talvez fosse, tão importante como o pão para a boca, parar para pensar que caminho queremos.

Bruno Candeias

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