A tirania do SIADAP

por Lurdes Gomes

Os funcionários da Administração Pública com grande incidência no vínculo de contrato individual de trabalho são avaliados pelo absolutismo do SIADAP [sistema integrado de gestão e avaliação do desempenho na Administração Pública, dos respetivos dirigentes e demais trabalhadores]. Todos, sem exceção, estão sujeitos à receada avaliação anual, para um dia, quem sabe, almejar uma subida na carreira. Nos locais onde não existe avaliação – nivelam por baixo (1 ponto)!

A título de exemplo – para tentar entender a lógica das quotas – quando um professor convoca os alunos para um teste, não parte do pressuposto que só poderá atribuir a uma parte/percentagem dos alunos a nota excelente, outra parte/percentagem dos alunos a nota de muito bom e par aí fora. O professor avalia de acordo com o que é apresentado pelos alunos e em casos excecionais até poderá ter uma turma em que só tem excelentes para atribuir.

No SIADAP não! Jamais uma equipa (turma) poderá ter níveis de excelência. Há limites e quotas para três níveis de avaliação 1, 3 ou 5.

É tenebroso pensar nestas correntes que são colocadas a adultos que, anteriormente, já passaram por várias avaliações até que a contratação e/ou nomeação fosse concluída.

Não é apenas um teste, trata-se de uma avaliação anual em que os avaliadores possuem a indicação –  “…as avaliações são efetuadas de forma justa, tanto em termos absolutos como relativos e com respeito integral das quotas de “Relevante” e “Excelente” que são conhecidas.”. Um aluno pode passar ou reprovar de acordo com o resultado obtido. No caso do SIADAP, torna-se viável ou inviável para o avaliado (trabalhador) a aquisição de pontos para ser bem-sucedido em termos de progressão profissional.

O deprimente SIADAP não fica por aqui, na sua generalização pode-se observar aspetos pouco claros e pouco transparentes, nomeadamente “devem ser fixados três objetivos”, contudo não mencionam que tipo de objetivos. Serão objetivos gerais? Será que alguém atinge os objetivos? Serão objetivos específicos? Terão em conta as especificidades do trabalho/objetivo? Na realidade tudo fica a cargo do avaliador que irá atribuir as insígnias para os mais que dispostos à função de bajular, lisonjear e cortejar aduzindo com ruídos e zumbidos do “arco da velha”. Nisto tudo, quem trabalha não consegue atingir objetivos. Afinal, a quota não o permite!

Melhor que concretização de três objetivos, parece-me que existem também algumas incongruências para a concretização de competências, porque são mais dúbias e subjetivas. Não sei se pelo método do copiar e colar, mas podemos ver que existem competências que são transversais às diferentes categorias profissionais, assistentes operacionais, assistentes técnicos e técnicos superiores e passo a citar: “adaptação e melhoria continua”, “trabalho de equipa e cooperação”, “relacionamento interpessoal”.

Chavões que vão entrando diariamente no discurso de qualquer pessoa, contudo desejaria que quem coloca estes moldes de competências pudesse de forma eficiente promover medidas que zelem para que possa existir, de facto, quer no tempo e no espaço para qualquer trabalhador, uma adaptação e uma melhoria continua tendo por base o relacionamento interpessoal por forma a dinamizar o trabalho em equipa tornando-o mais eficiente e saudável.

Não atingirei os objetivos, não faço parte do núcleo da quota! Faças o que fizeres! Digas o que disseres! A opacidade, falta de transparência, arrogância e a prepotência irão ditar os malfadados pontos do SIADAP.

Lurdes Gomes

Um pensamento sobre “A tirania do SIADAP

  1. Excelente o teu artigo. Deveria ser publicado num jornal, o *Público (nas Cartas ao Director), no J.N., *ou outro. O problema é que quem escreve tem de se identificar (nome e localidade) e tal não te deve convir… Saudações, Domicília

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