Com o 25 de Abril, pela Paz

por Mário Tomé

Comemorar o 25 de Abril dignamente exige um empenhamento radical pela causa da Paz.

Foi a paz o leitmotiv que presidiu a toda a movimentação conspirativa dos Capitães, até ao golpe militar que derrubou o regime fascista, imposto por Salazar e que Caetano manteve até ser enviado para o Brasil para uma reforma dourada.

Normalmente, aborda-se a questão da guerra colonial no contexto do derrube do fascismo, quando na realidade é exactamente o contrário.

Como sempre alertou o maior líder da libertação anti-colonial africana, Amílcar Cabral: o fim da dominação colonial arrastaria consigo o fim do fascismo, mas o fim do fascismo não significaria o fim da dominação colonial.

E a prova disso é que foi o colonialismo a base de sustentação das maiores democracias e, ainda hoje, as operações de manutenção da paz e de ajuda ao desenvolvimento não conseguem disfarçar a mão pesada da exploração neocolonial.

Os que hoje, disfarçados de defensores da Ucrânia, apelam à manutenção da guerra “até à derrota da Rússia”, como António Costa – obediente ao diktat imperialista – ou Pacheco Pereira que, já em Março de 2003, apoiou com os neocons (neoconservadores) a invasão do Iraque pelos EUA em nome da civilização ocidental (é um confronto de civilizações, disse ele!) – são os que abrem a autoestrada à extrema-direita assanhada contra Lula da Silva por este ter derrotado o fascista Bolsonaro.

Na vasta multidão que deu vivas ao 25 de Abril encontrava-se toda a burguesia liberal incapaz de dizer não à guerra colonial mas, como assinalou Amílcar Cabral, que queria libertar-se dos “condicionamentos industriais” para negociar na Europa e investir nas novas formas de colonialismo subordinado ao domínio imperialista.

Foi esta burguesia liberal – apoiada pelos social-democratas já sem “matéria-prima” pelo rompante neoliberal de Reagan e Thatcher e com a alma apodrecida – que se atirou brutalmente contra o movimento popular revolucionário, a única entidade política durante a situação revolucionária com visão e acção verdadeiramente pela paz e pela liberdade. E que bem o demonstrou na sua luta contra o fascismo remanescente, o capitalismo e a NATO.

O 25 de Novembro já estava inscrito na história do 25 de Abril quando, nas eleições de 1975, os eleitores deram uma maioria esmagadora a todos os que se escondiam por detrás da palavra socialismo, desde Freitas do Amaral e Basílio Horta do CDS, a Sá Carneiro do PPD – que queria “repor Portugal nos caminhos da sua história”, aliado ao General fascista Soares Carneiro – até Mário Soares, que usou o “Socialismo” para entregar o trabalho e a luta do nosso povo ao neoliberalismo da UE.

Hoje continuam todos juntos na defesa do pensamento único, na defesa do macartismo e da doutrina Monroe. A imitarem, com doçura, o odiado Putin que lhes dá todas as abébias.

E são incapazes de dizer “Putin fora da Ucrânia; NATO fora da Europa”, ou mesmo de apoiarem a proposta de Lula da Silva para um cessar-fogo que permita começar negociações de Paz.

Como é também defendido por Edgar Morin ou até Henry Kissinger, o velho falcão estratega dos crimes de guerra dos EUA.

O fascismo e a guerra continuam de mãos dadas, sob a tutela do imperialismo.

Celebremos o 25 de Abril com lucidez e sentido crítico, pois voltamos a ter de juntar forças pela paz e contra o “fascismo eterno”, como disse Umberto Ecco.

Viva o 25 de Abril!

Mário Tomé – Militar de Abril

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