Parlamento Europeu insta à introdução da censura nos países da União Europeia

por Adriano Zilhão

Pela quarta vez em um ano de guerra, no passado dia 16 de Fevereiro, a instituição oficialmente conhecida como Parlamento Europeu adoptou uma resolução sobre a guerra na Ucrânia. 

Como tem sido seu timbre, este “parlamento” destituído de poder legislativo e eleito por uma fracção do “eleitorado” faz rufar os tambores da guerra com o máximo volume sonoro que consegue.

Agora, insta por mais e mais armas e mais depressa para o exército da NATO/Zelensky, desta feita tanques ofensivos, aviões, mísseis, munições; reafirma “o apoio à prestação de ajuda militar à Ucrânia durante o tempo que for necessário; (…) reitera o apelo aos Estados-Membros para que aumentem substancialmente o apoio militar e acelerem a sua disponibilização (…); insta os Estados-Membros, os EUA, o Reino Unido e o Canadá a cumprirem rapidamente a promessa de fornecer tanques de batalha modernos à Ucrânia; (…) solicita que se pondere seriamente a entrega à Ucrânia de aviões de combate, helicópteros e sistemas de mísseis adequados ocidentais, bem como um aumento substancial do fornecimento de munições”. 

Insta também, é claro, com a UE e os governos para manterem “a sua política de sanções contra a Rússia e a Bielorrússia (…); (…) a alargar substancialmente o âmbito das sanções, em particular as que visam a economia e o setor da energia, proibindo as importações de combustíveis fósseis, urânio e diamantes russos” – suscitando a natural interrogação: ah, só agora é que querem proibir a importação de combustíveis fósseis, urânio e diamantes? Com tantas vagas de sanções anteriores… será concebível que tal omissão fosse por interesse?

Mas ninguém pense que o augusto Parlamento Europeu é mera caixa de repetição do que dizem os verdadeiros mestres do “mata? esfola!”, os cabos-de-esquadra do imperialismo, os von der Leyen e Borrells (com algum Costa em nota de beija-pé).

Não, senhor. Desta vez o Parlamento tem ideias originais. 

Desta, resolve instar também a que: ponham cá a censura! 

No ponto 27 da sua resolução, o Parlamento Europeu insta, assim, “a UE e os seus Estados-Membros” a assegurarem que “as empresas de radiodifusão e os canais de televisão europeus não prestem serviços a quaisquer canais de televisão russos sancionados nem contribuam para a propagação de conteúdos de desinformação russos”.

Só há, é claro, uma maneira de “a UE e seus Estados-membros” assegurarem que as empresas de televisão e radiodifusão não “contribuam para a propagação de conteúdos”. É os Estados (e a UE!) introduzirem a censura prévia – de boa memória, particularmente neste país.

O Parlamento Europeu, exemplo de democracia para inglês ver, defende a “Ucrânia democrática”, “instando” à destruição dos últimos vestígios de democracia nos países da Europa que se auto-intitula “democrática”.

Mas quem votou a favor desta infâmia? Não é surpresa…

Surpreenderá alguém que esta resolução (fácil de consultar aqui), além do natural voto favorável da direita, tenha tido também o do PS, acorrentado a Bruxelas e à NATO?

Decerto que não. Infelizmente, também o comportamento da direcção do Bloco de Esquerda, através dos seus eurodeputados, que votaram a favor de todas as anteriores resoluções “viva a guerra” do PE, já só surpreenderá muito poucos: também votaram a favor da resolução na globalidade. Depois, porém, segundo as actas do PE, corrigiram o seu voto para “abstenção”. Abstenção perante tais infâmias antidemocráticas é, no mínimo, bizarro.

Em vão se procura, porém, explicação ou publicidade destas votações nas páginas oficiais do Bloco ou nas dos eurodeputados. Não terão importância por aí além?

Adriano Zilhão

Um pensamento sobre “Parlamento Europeu insta à introdução da censura nos países da União Europeia

  1. Certíssimo! O PE cumpre a sua missão essencial de servir para legitimar a máquina burocrática que dá pelo nome de UE, dando uma vaga aparência de democracia a uma instituição onde tal conceito nem existe. Sequer os deputados têm capacidade legislativa como é apanágio de qualquer parlamento digno desse nome.

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