Américo Duarte, operário da Lisnave, foi o primeiro deputado da UDP eleito para a Assembleia Constituinte, em 1975. Tinha 33 anos de idade. Começou a trabalhar aos 11 anos, passou pela Sorefame, como serralheiro, e pela Guerra Colonial, em Angola, contra a sua vontade. Participou nas lutas e greves operárias em pleno regime fascista. Depois do 25 de abril, eleito para a Comissão de Trabalhadores do estaleiro naval da Lisnave, foi um dos organizadores da grande manifestação de 12 de setembro de 1974. Faleceu ontem, dia 6 de março, vítima de doença de Parkinson.
O período após o 25 de Abril de 1974, de grande mobilização popular contra o fascismo e por profundas conquistas democráticas e sociais, tinha criado as condições políticas para que a UDP, recentemente criada, tivesse conseguido eleger um deputado para a Assembleia Constituinte. Quem assumiu o lugar no Parlamento foi o “Liberdade”, de Queluz, como era popularmente conhecido Américo Duarte. Era, na época, o único parlamentar na Europa eleito por um partido da esquerda revolucionária.

Numa entrevista publicada em 20 de março de 2022 no jornal Público, Américo Duarte relatou à jornalista Isabel Nery o episódio histórico da manifestação que invadiu Lisboa com trabalhadores da Margem-Sul: “metemos na rua a maior manifestação operária do país. Íamos todos de fato-macaco, alinhados em colunas de sete elementos. Cada grupo tinha capacetes brancos, amarelos, verdes ou azuis. Organizados, como uma parada militar. (…)
Quando nos viram assim tão bem organizados, os militares e o PCP ficaram preocupados. O próprio PC não concordava com a manifestação. Vem um indivíduo dizer-me que o Melo Antunes e o Vítor Alves estavam na Madragoa, na tasca dos caracóis, para falar comigo. Estavam a abster-se de deixar vir tropa para a rua e queriam que eu lhes dissesse qual era o objetivo da manifestação. Fui lá com o Eduardo Pires. Tinham um carro à porta da Lisnave com um daqueles transmissores, em contacto com as chefias. Dizem-nos: “Estamos a pensar, e não queremos pensar nisso, que vocês vão de forma militar e querem ocupar emissoras e assim.” Disse-lhe que não tínhamos ideias bélicas. Só estávamos a reivindicar melhores condições de vida.”
Américo Duarte foi o primeiro deputado constituinte que se levantou para falar na sessão de estreia da Assembleia Constituinte, a 3 de Junho de 1975. Mais tarde, substituído por Afonso Dias, Américo Duarte regressa ao seu posto de trabalho na Lisnave.

No passado dia 7 de janeiro, um grupo de amigos e camaradas organizou um almoço de homenagem a Américo Duarte, na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa. Com 80 anos e já visivelmente afetado pela doença, o velho operário e ex-deputado constituinte participou no almoço, recebeu uma medalha comemorativa e dirigiu-se às pessoas presentes com uma breve mensagem de agradecimento: “Quero agradecer aos organizadores deste encontro: camaradas Carlos Marques, Francisco Tomás, Eduardo Pires e Jaime Pereira e ainda a todos vós pela vossa presença; Nos tempos que estamos a viver, de grande retrocesso político e social, é sempre positivo reflectir sobre as experiências vividas e também nos erros cometidos, para projectar o presente e futuro, dos que continuam a acreditar que é possível mudar de rumo. Para todos, mais uma vez, o meu obrigado por terem recordado a velha UDP de que tanto me orgulho ter pertencido. Américo Duarte – 7 de Janeiro de 2023“
A UDP ficou sem mais um CAMARADA.
A sua luta com a doença acabou, mas os seus camaradas de luta vão continuar o que Ele sempre lutou pela Revolução.
Viva o Camarada Américo.
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