por Manuela Tavares
Aconteceu a 10 e 11 de Fevereiro em Coimbra um espaço de partilha de conhecimento e experiências sobre a crise climática e os caminhos a percorrer nas lutas que se avizinham. Foi o 8º Encontro Nacional pela Justiça Climática.
Com uma grande diversidade temática e diversos grupos e coletivos ecologistas a organizar debateu-se:” Democracia Energética”, “Mineração em mar em 2023: impactos climáticos e sociais”, Transição agrícola: uma questão de transição energética”, “Neocolonialismo e justiça climática – quem está verdadeiramente em dívida’”, “Como pode a sociedade responder aos incêndios catastróficos?”, “Hoje é o último dia com gás. E agora?”, “Não serei eu um animal?”, “Power to the People: o poder da participação”, “Qual o papel das mulheres na resposta à Emergência Climática”.
Este último painel foi organizado pela UMAR e pela YCL (Youth Climate Leaders) e teve um anfiteatro cheio, cerca de 100 pessoas a participar. Pela UMAR estiveram Luísa Barateiro, bióloga, ativista ecofeminista e dirigente da UMAR e a médica de Saúde Pública, Lara Guedes que fez uma brilhante intervenção ligando as questões do Clima à Saúde. Neste mesmo painel falaram ainda a cabo-verdiana Débora Carvalho, doutorada em alterações climáticas e Victória Rampazzo da YCL, intervenções muito concretas com exemplos que demonstram, como no caso de Cabo Verde, que ainda existe um longo caminho a percorrer.
A necessidade de ligar a ecologia aos feminismos ficou bem patente neste painel. 55% da segurança alimentar depende das mulheres. Mas são elas que têm menor acesso à educação. Como é que a saúde sexual e reprodutiva das mulheres é afetada pelas alterações climáticas, como é que a desertificação das terras e a sua aridez leva a que as mulheres tenham de percorrer o dobro dos quilómetros para recolher água para as suas comunidades (função tradicionalmente atribuída às mulheres). As terríveis subidas das temperaturas causam desidratação, doenças cardio-vasculares, doenças respiratórias, e mentais, em especial nas mulheres que levam as crianças nos grupos de refugiados climáticos, nem sempre bem acolhidos, quando é um dever ético fazê-lo.

No painel sobre “Neocolonialismo e Justiça Climática” foi evidente que existe uma dívida dos países colonizadores em relação aos países colonizados que devia ser paga. Questões que foram colocadas: como pagar essa dívida, como fazer com que as populações mais vulneráveis, os países pobres, as regiões insulares que são as mais afetadas e menos poluem, sejam alvo de medidas restritivas que nem sequer os países ricos cumprem?
“Não é possível falar de gás fóssil em Portugal, sem falar do Porto de Sines”, assim afirma o grupo ecologista “Parar o Gás” que nos convida a bloquear o Porto de Sines no dia 13 de maio, numa ação de desobediência civil. Razões: A Sines chega mais de 90% do gás utilizado no território nacional; o gás natural é um combustível fóssil, na prática é metano, que contribui 86 vezes mais do que o CO2 para as alterações climáticas. Além de destruir o Planeta, o gás é responsável pela subida de preços, quando as mesmas empresas fósseis que aumentaram os preços do gás, obtiveram lucros enormes.
No domingo dia 12 as associações e grupos ecologistas que estiveram na organização do Encontro reuniram-se para debater novas abordagens táticas e estratégicas e novas frentes de luta para 2023 e 2024.
NO PRÓXIMO DIA 3 DE MARÇO, A PARTIR DAS 10:00 H, NA ALAMEDA (LISBOA), ESTUDANTES, PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO, TRABALHADORES E CIDADÃOS VÃO MARCHAR PELO FIM AOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E PELA DEMOCRACIA ENERGÉTICA, COMO PARTE DA GREVE ESTUDANTIL GLOBAL CONVOCADA PELA FRIDAYS FOR THE FUTURE.
