por Domicília Costa e Lurdes Gomes
A população portuguesa tem vindo a perder capacidade de poder de compra devido a vários fatores que nos últimos anos foram propícios ao aumento desse fosso, nomeadamente: intervenção da troika e todas as suas implicações; a pandemia por Covid 19 e a guerra na Ucrânia.
Com o acumular de todos estes elementos, não houve capacidade e/ou vontade política real para reverter os causadores das desigualdades. O principal elemento é o aumento de rendimento disponível para poder fazer face ao s(c)usto de vida.
Assim, segundo dados da DECO, os preços dos bens alimentares essenciais, entre 23 de fevereiro e 7 de Dezembro deste ano, terão subido em média cerca de 19.31%.
Sabemos que o grosso da população trabalhadora consome sobretudo carne de frango, perú, porco ou enchidos. Ainda segundo a DECO, nesse período, o frango terá tido um aumento de cerca de 30%, os bifes de peru de 25%, a carne de porco cerca de 20%. O peixe tem igualmente subido muito de preço, deixando cada vez mais difícil diversificar a alimentação.
Leite e iogurtes são (ou deveriam ser) alimentos essenciais de crianças de tenra idade; e deveriam ser consumidos diariamente pela generalidade da população de todas as idades. O leite meio gordo, só entre Agosto e princípio de Outubro deste ano, subiu de 0,73 para 0,89 euros o litro. Custando agora, conforme os comerciantes, perto de 1 euro o litro.
Mas como “nem só de pão vive o homem”, e o pão também tem vindo a subir de preço (ou diminuindo de peso), também tem aumentado bastante o preço dos legumes e da fruta, que são igualmente essenciais à alimentação humana.
E com o aumento dos preços dos combustíveis (aumento agravado pela guerra) necessários ao transporte, todos estes alimentos continuarão a ficar cada vez mais caros, pois Portugal está diretamente dependente do exterior para assegurar o consumo destes bens.
O acordo de concertação social assinado entre o governo e o patronato não irá resultar num aumento real dos salários em 2023, já que a inflação prevista ser-lhe-á superior. O Salário Mínimo Nacional (SMN) estabelecido em 760 euros irá ficar pelos 677 líquidos. Vamos adquirir os bens de primeira necessidade e ficamos rendidos ao s(c)usto de vida.
As rendas das casas não serão excepção e também irão disparar, com muitos senhorios a não renovarem os contratos, empurrando os locatários para a rua, preferindo aguardar que outros as arrendam, ou colocando-as para venda.
Atravessamos tempos conturbados em que, se não houver uma efectiva subida dos salários dos trabalhadores, não será com remendos rotos de apoios extraordinários que as pessoas e as famílias poderão fazer face a todos os aumentos que este novo ano promete carregar.
Com uma população cada vez mais envelhecida e por consequência mais dependente de medicamentos, somos confrontados com pedidos de subida de preços dos fármacos. A Adif (Associação de Distribuidores Farmacêuticos) pede a subida dos preços mais baixos (!), até aos 30 euros, pois estes produtos “têm o verdadeiro risco de deixar de continuar no mercado”, podendo ocorrer “um desinteresse comercial puro (?) de colocar determinados medicamentos no mercado...”.
Lembramos que não será uma situação nova, pois já aconteceu há anos, e mais recentemente tem desaparecido do mercado medicamentos prescritos que têm de ser substituídos por outros substancialmente mais caros, que algumas vezes também se encontram esgotados.
O ano 2023 será um grande desafio para muitas famílias que se encontram no limiar das suas capacidades para fazer face a todos os aumentos: alimentação, rendas, eletricidade, gás … é mesmo um aumento do(s) custo(s) de vida, que temos de combater exigindo o aumento real dos salários pois só desta forma se poderão ultrapassar todas estas contingências.

