Intervenção e propostas de Sílvia Carreira na reunião da Mesa Nacional de 19.nov sobre o projeto de Resolução política.
A COP 27 falhou, como todas falharam porque todas as formas que o capitalismo inventa para terminar com um problema que ele próprio criou não são mais que enganos. Para travar a crise climática tem que se mudar quase tudo, desde o modo de produção até ao consumo.
A luta contra a crise climática é uma luta anticapitalista. A luta das estudantes ativistas climáticas evidenciou a necessidade de radicalizar a luta e provou ser capaz de ganhar ampla expressão pública.
É justa a reivindicação da demissão do ministro extrativista Costa e Silva, anteriormente ligado à Partex – empresa dos negócios do petróleo, que violou em declarações o artigo 45º da lei de Bases do Clima – “É proibida a outorga de novas concessões de prospeção ou exploração de hidrocarbonetos no território nacional”. Não se trata apenas da demissão do ministro. Esta reivindicação comporta o simbolismo da exigência da mudança das políticas extrativistas, o fim ao fóssil, e por isso deve ser apoiada, tanto pelo seu objetivo político, como pela coragem manifestada pelas ativistas.
Propomos que seja acrescentado, no ponto do projeto de Resolução – ”Terminou a credibilidade das COP, é a hora da mobilização dos povos”, para que seja inequívoco o apoio do Bloco à luta e revindicações das estudantes, o seguinte parágrafo:
“Confrontar o Governo com as declarações extrativistas do ministro Costa e Silva é urgente e incontornável. A pressão deste movimento estudantil pela sua demissão é correta porque concretiza a exigência de uma alteração radical na política ambiental e ecológica.”[1]
No ponto “Qatar, o Mundial da vergonha”, para além do exposto no projeto de Resolução, devemos manifestar como lamentáveis as declarações do Presidente da República, de relativização dos ataques aos direitos humanos no Qatar, reveladoras da pouca importância que dá aos valores dos direitos humanos, já para não falar da Justiça Climática.
Mas este Mundial é também um atentado para o clima. O Mundial de Futebol, que se vai realizar no Qatar a partir do próximo domingo, foi acusado e constitui de facto uma operação greenwashing, ao apresentar-se como o primeiro a assegurar a neutralidade carbónica, só possível com uma enorme criatividade contabilística sobre as emissões de CO2. A FIFA está a difundir números que subestimam grandemente as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) que a competição já provocou e vai continuar a provocar, desde a megalómana construção dos estádios e rodovias até à intensidade de voos que gera.
Propomos para introduzir no terceiro parágrafo deste ponto: “Este mundial anunciado falsamente como o primeiro a assegurar a neutralidade carbónica tem estádios que vão ter ar condicionado e haverá diariamente 150 voos para transportar adeptos e equipas; perante isto devemos dizer que este é o Mundial do greenwashing e do agravamento da injustiça climática.”[2]
