por Rui Cortes
A ideologia do neoliberalismo tem-se alastrado de cima para baixo em todas as sociedades e tem-se infiltrado dissimuladamente no meio universitário e nos intelectuais, influenciando gerações de estudantes que por sua vez vão levar os princípios da competição como definidores das características das relações humanas. Mas a doutrina do neoliberalismo, que surgiu através de Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, em Paris, mesmo antes do dealbar da II Guerra Mundial, mas para a sua divulgação, a partir da Sociedade Mont Pelerin, contribuiu o inestimável apoio financeiro de milionários que fundaram e apoiaram o American Enterprise Institute, a Heritage Foundation, o Cato Institute, o Institute of Economic Affairs, o Centre for Policy Studies ou o Adam Smith Institute.
Foi na década de 1970, quando as políticas keynesianas começaram a desmoronar-se em função das crises económicas, que as ideias neoliberais singraram, nomeadamente com a administração de Jimmy Carter nos EUA e com o governo de Jim Callaghan na Grã-Bretanha, a que se seguiram Margaret Thatcher e Ronald Reagan, todos com a mesma receita: cortes maciços de impostos para os ricos, o esmagamento dos sindicatos, a desregulamentação, a privatização, a terceirização e a concorrência nos serviços públicos.
Instituições como o FMI, o Banco Mundial ou a Organização Mundial do Comércio, fomentaram políticas neoliberais em todo o mundo a que a “esquerda” igualmente incorporou na sua governação. O mais notável exemplo foram os trabalhistas de Tony Blair.
Os próprios departamentos de Economia das grandes Universidades de Chicago e Virgínia, financiados pelos grandes capitalistas americanos, ajudaram a propagar estas ideias em todo o mundo através do financiamento de cargos académicos e departamentos. Assim se espalhou a ideologia que define os cidadãos como consumidores, onde a democracia assenta na liberdade de comprar e vender, fazendo acreditar que o capitalismo recompensa o mérito e pune corretamente o falhanço e a ineficiência.
Como mencionei, a diminuição dos impostos e o emagrecimento do Estado, são outras regras fundamentais, a par da desregulamentação das atividades económicas e da reconversão dos serviços públicos para favorecer a privatização. A desigualdade não é vista como um mal social, pelo contrário, é preciso evitar as distorções do mercado e aceitar a hierarquia natural de vencedores e perdedores. A desigualdade é assim apenas uma constatação que separa vencedores e vencidos, ou seja, empreendedores e negligentes.
As Business Schools (b-schools) portuguesas, sejam elas do Porto, Lisboa ou Coimbra também não fogem a este padrão, como aliás as ditas escolas de negócios em todo o mundo. Verifica-se assim a explosão de novos cursos, em especial dos MBA das b-schools na Europa, tudo com os devidos rankings para assegurar a sua legitimidade.
O professor de Estudos Organizacionais da Universidade de Bristol Martin Parker, autor do livro seminal” Shut Down the Business School: What’s Wrong with Management Education”, considerou as Escolas de Negócios e os MBA inerentes, como cúmplices das crises financeiras por abrirem caminho a atitudes particularmente nocivas, por estas encorajarem práticas arriscadas ou corruptas. Considera Parker que, nestas Escolas financeiras o capitalismo é apresentado como uma ciência e não como uma ideologia, sendo precisamente esta combinação de ideologia e tecnocracia que transforma a escola de negócios num local perigoso. Para mais estas b-schools, segundo ele, constituem máquinas que transformam as avultadas receitas dos alunos [na maioria das vezes suportadas pelos seus pais] em lucro, sendo este o seu principal objetivo, como assegura Parker. Basta ver quanto se paga em propinas de Mestrado no ISCTE, afinal uma Universidade estatal…
De acordo com a visão de Parker, os instrumentos financeiros que são rotineiramente utilizados pelos bancos e pelos traders, são responsáveis por fazer ajoelhar a economia global há uma década e são profusamente ensinados nas b-schools, e o mesmo acontece com as ideias sobre a necessidade de crescimento económico, comércio internacional e evasão à regulamentação a favor do ‘comércio livre’ tudo destituído de quaisquer princípios de sustentabilidade face à destruição de recursos naturais a ou alterações climáticas.
Os partidos de extrema-direita na Europa defendem igualmente políticas neoliberais. É o caso de Meloni, do Partido neofascista Irmãos de Itália, que liderará o novo Governo Italiano, para quem é necessária a privatização ou comercialização de serviços públicos como energia, água, ferrovia, saúde, educação, estradas e, se calhar, prisões. E é esta extrema-direita que alastra pelo Europa, como também recentemente na Suécia. Porquê? Chris Hedges observa que os movimentos fascistas e neofascistas constroem a sua base não a partir do meio politicamente ativo, mas das massas politicamente inativas, dos ‘perdedores’ que sentem, muitas vezes corretamente, que não têm voz ou papel a desempenhar no establishment político. Segundo ele, quando o debate político não envolve as pessoas, as mesmas tornam-se presas fáceis de slogans, símbolos e emoções. E agitando o perigo dos emigrantes e criminalidade temos uma receita de sucesso.
Provavelmente o triunfo do neoliberalismo reflete também o fracasso da esquerda. Esta andou demasiado tempo seduzida pelo crescimento económico contínuo, nem que fosse à custa da delapidação dos recursos naturais e do incremento dos combustíveis fósseis. É verdade que o falhanço do produtivismo soviético, feito à base de planos quinquenais ambiental e socialmente insustentável, também não ajudou nada.
É evidente que, com as alterações climáticas o modelo neoliberal tem os dias contados… Mas que alternativa vai apresentar a esquerda?

O Rui escreveu um excelente resumo do neoliberalismo e da falência das esquerdas. A pergunta com que termina faz todo o sentido. O caminho a seguir só pode ser do tipo Green New Deal, Eco-socialismo democrático ou outra via similar. Isto para quem se pretende de esquerda, bem entendido.
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