por Luís Mouga Lopes
Hoje não vou opinar a respeito dos fogos e dos diversos modelos agroflorestais, que promovem o uso sustentável do solo. Nem do estado deplorável em que as nossas florestas, que deveriam estar povoadas de árvores e arbustos para absorver dióxido de carbono, conservar o solo e regular os fluxos hidrológicos, se encontram, pois já expressei diversas vezes o meu ponto de vista acerca destes problemas que toda a gente conhece e critica; que servem, entre outros, as milionárias indústrias da celulose e do papel. Porém, deixo uma nota: as florestas dificilmente crescem ou subsistem nas regiões com elevada frequência de fogo natural ou criminoso…
Neste artigo, resolvi manifestar discordância sobre outro problema que, estando relacionado com o anterior, nos assola há tempo demais: a evolução demográfica, que tem transformado a realidade social do nosso País, visto haver pessoas doentes, sem médico de família, a adiar a fecundidade e o futuro por não terem acesso à educação e ao emprego.
Jovens e menos jovens a viver sem qualidade de vida, longe de tudo, isolados e discriminados, à mercê de um sistema nacional milionário que premeia as guerras dos ricos contra os ricos, mas que não integra a saúde e a segurança social.
Neste território macrocéfalo (o país está todo entre a Arcada e São Bento) há um modo de vida que reflete um assincronismo entre as respostas do sistema nacional de saúde e as do sistema de segurança social; uma falta de sincronia promotora de desigualdades, de privação e carência, que tem desapossado um povo que – por “incompreensão” dos sucessivos governos, deputados e autarcas – só lhe resta rogar à misericórdia; estender a mão a agentes e instituições que não pretendem o desenvolvimento e que navegam em mares parados sem o apoio de planos e modelos de gestão pública eficientes, com capacidade de fazer o que precisa de ser feito!
Este “deixa a andar” – que tem dado jeito a muitos doutos – não é um problema dos dias de hoje: em Portugal, país dos senhores doutores, todos eles deveras importantes, continua-se a navegar à vista sem risco e sem grande ciência. Apesar de todo o conhecimento partilhado, de todas as teses apresentadas e de todos os registos de fórmulas mágicas do poder executivo (decretos-leis), pouco se sabe acerca do que… Deus (seja ele o que for), o grande responsável por isto tudo, vai fazer a Portugal. Ao mundo! Ficou incrédulo com esta afirmação? Se sim, só lhe resta rezar… para que tudo fique bem.
Reforço tal alegação, dizendo que tal mentalidade cristã (de que até os ateus são vítimas), que dirige o País, a nossa região, juntamente com os seus intermediários, condicionantes de vidas e de modos de pensar e de escolher, nunca irá arranjar vontade para encontrar soluções, para acabar com tais acontecimentos desastrosos. Para terminar com tais pecados. De facto, sendo tudo permitido em nome de um ser supremo e, por conseguinte, encontrando-se tudo desamparado, dificilmente encontrar-se-á o caminho da resolução dos problemas básicos do nosso País.
Sendo assim, caso o português livre tarde em chegar, o arrebatamento da saúde e da segurança social pública, desde há muito entregues a tais agentes de execução, acabará por colapsar, pois a falta de dirigentes e funcionários públicos qualificados, incentivados, honestos e capazes, tonificará os males que motivam o Estado-papão; dos longos períodos de espera e do desperdício de recursos e da má administração financeira da coisa pública.
Luís Mouga Lopes