Para que a tua intervenção na IV Conferência Nacional possa ficar online e acessível aos/às militantes do Bloco, envia por e-mail (convergencia.bloco@gmail.com) o respetivo texto ou uma síntese. Todas serão publicadas.
Transcrevemos de seguida a intervenção de Carlos Matias.
Intervenção de Carlos Matias na 4º Conferência Nacional do Bloco
Camaradas
Chegamos a esta Conferência após um longo ciclo de derrotas eleitorais. Com humildade, temos de analisar onde é que o Bloco errou.
Porque certamente o Bloco errou, já que nos aparece inaceitável a ideia sobranceira de que o Bloco acertou sempre, nada temos que nos arrepender e de que quem errou terão sido sempre os eleitores.
Os resultados eleitorais catastróficos com que os eleitores nos penalizaram exigem que vamos além das explicações superficiais.
Como militantes de um partido de esquerda, temos de ser exigentes, temos de manter um forte espírito crítico, enfrentar a realidade e procurar respostas, com coragem intelectual. É pena que a comunicação social hoje tenha sido impedida de acompanhar os nossos trabalhos.
Porque somos de esquerda, valorizamos o coletivo em que cada um e cada uma não pode, não deve abdicar de pensamento próprio, delegando-o num qualquer pequeno comité de gurus que falam muito bem, mas que como se vê pelos resultados eleitorais, já acertam muito pouco.
É óbvio, que tanta derrota eleitoral seguida não pode ser apenas resultado das conjunturas.
Porquê?
Porque já tivemos bons resultados eleitorais em anteriores e idênticas circunstâncias de bipolarização, por exemplo. Por outro lado, no final do ano, houve quem votasse a favor do Orçamento (o PAN) e acabasse penalizado eleitoralmente. E a tal onda de direita que varrerá a Europa e também nos terá arrastado para o fundo, pelos vistos fracassou em França, perante a clareza e a radicalidade de Mélenchon.
No balanço, temos mesmo de ir ao fundo. O que, de há anos para cá, foi corroendo a intervenção do Bloco levando à perda drástica de representação, foi a colocação da necessidade de um acordo com o PS como elemento central da nossa proposta política.
A geringonça foi uma boa solução na conjuntura muito particular de 2015. Primeiro estranhou-se. Mas, depois entranhou-se progressivamente como linha política estratégica e como fio de prumo do nosso discurso
Esse foi um erro estratégico que uma Convenção tem de alterar rapidamente.
A subordinação da nossa intervenção à imperativa necessidade de um acordo de incidência governamental com o PS levou-nos a centrar a intervenção no Parlamento, a subvalorizar a intervenção do partido nos locais e nas regiões, a menosprezar o trabalho sindical e até o apoio a lutas importantes.
O voto contra o Orçamento PS em 2021 foi correto. Mas apareceu como incoerente perante a insistência num acordo com o PS, o partido que o havia proposto.
Pior ainda: o geringoncismo entranhado levou o secretariado nacional a abafar a democracia interna, esmagando a bem ou a mal qualquer voz dissonante da linha oficial, impondo-se o livre arbítrio do secretariado
É preciso alterar o rumo estratégico do Bloco e estatuariamente tal só poderá ser feito numa Convenção – esse ponto alto de uma democracia interna de alta intensidade e participação.
Camaradas
Não basta mudar agora o discurso, mantendo as mesmas práticas de direção, somando-lhes agora apelos à unidade. E partindo de um balanço superficial poucos acreditarão numa verdadeira alteração de estratégia.
Para a mobilização social contra a austeridade e o empobrecimento, na luta por melhores salários e pensões — na oposição frontal ao governo do PS, enfim, precisamos de um Bloco democrático, sem donos da verdade, nem linhas oficiais, sem perseguições internas, nem camaradas marginalizados. Todas e todos fazem falta, sem decapitar nem endeusar ninguém.
Essa era a matriz inicial do Bloco que precisa de ser resgatada. Que tem de ser resgatada.
Esta Conferência tem de ir por aí.