Estamos a colocar online todas as participações na IV Conferência Nacional que nos forem enviadas. Se pretenderes disponibilizar a tua intervenção para ser colocada online, envia por e-mail (convergencia.bloco@gmail.com) o respetivo texto ou uma breve síntese.
Transcrevemos de seguida a intervenção de Bruno Candeias.
Intervenção de Bruno Candeias na 4º Conferência Nacional do Bloco
Saudar a participação de todas e todos, neste espaço de debate, e quem veio para o debate honesto e sem deturpações.
Camaradas,
Começo com uma pergunta:
Máquinas institucionais servem para transformar ou para nos adaptarmos?
A pergunta não é minha, é do camarada Francisco Louçã, em 2018, na revista da Rede Anticapitalista, um grupo de aderentes que se organiza, tão legítimo como a Convergência ou a Tendência Esquerda Alternativa, porque somos todos Bloco de Esquerda.
E é a resposta a esta pergunta que muitos aqui hoje deveriam ter dado. Uma direção, aliás, um Secretariado, que opta por não fazer balanço e autocrítica, permanece num estado de negação ou, tão bem descrito, sem arrependimentos!
Não responder, é ignorar a linha política que nos trouxe até aqui, alicerçada em dois pilares fundamentais: a disputa institucional e a disputa ao centro.
Foi precisamente aqui que nos deixámos condicionar e nos adaptámos. Isso, sim, foi kamikaze.
A excessiva proximidade ao PS, acantonados no Parlamento, esvaziando o espaço de protesto à esquerda, não nos permitindo o desafio ao PS em 2017, não entender as eleições de 2019 e a morte da Geringonça quando o PS rejeitou negociar à esquerda.
Não quisemos aí, iniciar um novo ciclo sendo oposição plena, e viabilizámos o Orçamento de Estado de 2020. E ainda que, sob grande pressão interna, tenhamos chumbado o OE21 e OE22, não quisemos mudar de rumo, entrando na contradição fatal: trocar a afirmação política autónoma em campanha, por uma narrativa monocórdica a pedinchar um acordo com o PS. Ninguém compreendeu, nem nós quisemos explicar.
Nas eleições legislativas de 2022 todos os objetivos do Secretariado falharam: ser 3ª força, impedir a maioria absoluta e negociar com o PS. Foi, pois, o corolário das sucessivas perdas de influência e a falência da linha política que nos trouxe até aqui.
Como se não bastasse, estamos perante a agudização do estrangulamento democrático, e do centralismo burocrático, onde se rejeita a cooperação democrática entre sensibilidades, se atira a pluralidade para a cova, se desvalorizam órgãos de direção como a Comissão Política, transferindo todos os poderes para o Secretariado Nacional, e se desrespeita a vontade das bases, como se verificou na constituição das listas às legislativas, violando claramente os estatutos. Se a democracia é esmagada cá dentro, não desistimos e lutaremos por ela onde quer que seja.
Não podemos continuar a rejeitar um partido enraizado, das aldeias às cidades, do litoral ao interior, nas ruas e nas empresas, desvalorizando o trabalho local. Concentrando a disputa institucional no Parlamento e no aparelho do Estado, em detrimento dos movimentos sociais e da iniciativa em baixo. Um partido-movimento construído de baixo para cima.
Cabe-nos sair desta IV Conferência com a convicção de que é necessário alterar o rumo estratégico do nosso partido e que, para isso, é urgente a realização da XIII Convenção Nacional.
É essa a nossa responsabilidade, estar à altura, sem medo da democracia e da pluralidade. Essa é a responsabilidade da próxima Mesa Nacional.
A Convenção não serve para decapitar direções, serve para alterar o rumo estratégico, serve para afirmar o Bloco de Esquerda como a alternativa anticapitalista, ecossocialista e antifascista, capaz de responder ao país, ao povo e aos trabalhadores.
Bruno.
Muito bem. Sem demagogia mas com a clareza de sempre.
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