por Higino Maroto
Mulher,
Mãe,
Amante,
Filha:
És a companheira que a nosso lado
luta por um mundo melhor,
um desejo de liberdade,
de igualdade pelos mesmos direitos,
pelo mesmo respeito,
pela repartição justa da vida,
das canseiras e das fadigas.
Só tu mulher,
sabes dar aquele toque de beleza,
de sedução, de carinho, de compaixão,
de dádiva e de perdão,
por vezes tão duro,
noutras tão meigo e reconfortante.
O teu olhar é penetrante de doçura e encanto
ou de desprezo e condenação.
Nas malhas que teces,
qual Penélope à espera de um errante Ulisses.
Ou nas ações de Afrodite,
Vénus com outro nome,
atraindo os mortais.
Maia Maístas, senhora da fecundidade
que tudo gera no seu ventre materno.
Mas tu mulher,
também te ergues em ações milenares,
Foste Amazona no Daomé,
durante séculos.
Operária em Chicago,
que juntamente com o teu camarada,
lutaste pela jornada de oito horas diárias.
Foste Kollontai, Krupskaya e Stassova
na grande revolução,
que em 10 dias mudou o mundo.
Foste Rosa Luxemburgo em Berlim,
Catarina Eufémia e Rosa Morgado
em Portugal do medo e da morte.
Foste Dinalva, Helenira, Maria Lúcia …
no Araguaia de nobre gesto,
mas de luta tão desigual.
Foste as três Marias (Barreno, Costa e Horta)
e as novas cartas Portuguesas,
que tanto medo causaram
no apodrecido regime fascista
e na sua moral hipócrita.
És hoje Asia Ramazan Antan (última mártir)
e o teu regimento feminino
que nas montanhas do Curdistão
(essa pátria dividida entre turcos,
iraquianos e sírios), luta pela liberdade,
pela santa liberdade, milenarmente espezinhada
e mil vezes conquistada,
para além dos inimigos tradicionais,
acrescentaram outro – o fascismo do Daesh.
Mas, Asia o teu exército, imensamente belo
juntando, mães, filhas, netas, avós
levanta a bandeira de toda a humanidade,
suprema razão de viver.
Mulher,
Mãe,
Amante,
Filha:
Em cada causa te encontro,
seja a mais singela ou a mais agreste e perigosa,
com o mesmo sorriso de encantamento
embalas o filho, abres um livro ou empunhas uma arma.
HM
11/09/2016
in “Longos Caminhos”
Pintura de Sílvia Carreira, “O Espartilho – 2005”.