UMA CERTEZA:
A mais pesada derrota eleitoral em 20 anos, confirmando e agravando a tendência de um ciclo de perdas eleitorais (assembleia regional da Madeira 2019; legislativas 2019, presidenciais 2021, autárquicas 2021).
UMA CONSTATAÇÃO:
Todos os objetivos propostos para estas eleições, foram falhados.
Ser 3º força política, impedir a maioria absoluta e com isso negociar com o PS.
E QUAIS AS RAZÕES:
Bipolarização promovida pelas sondagens, gerou o perigo do regresso da direita, levando a um voto útil da esquerda no PS (o que por si só não explica, visto que nem sempre foi assim).
Existe quem nos diga que errámos na leitura de um eleitorado à esquerda que prefere a estabilidade e politicamente está mais à direita que a direção do Bloco (que além de ser uma análise perigosa, não explica, visto que nem sempre foi assim).
Teremos, portanto, que adicionar a esta equação, a política, a linha política. Uma linha política alicerçada em dois pilares fundamentais: a disputa institucional e a disputa ao centro.
Uma linha política aprofundada, nos últimos anos, com a excessiva proximidade ao PS e excessiva parlamentarizarão, esvaziando um espaço de protesto que tem vindo a ser ocupado pela direita ultraliberal e fascista.
Ficámos amarrados a ilusões e expectativas que se revelaram um colete de forças, que não nos permitiu o desafio para novo acordo em 2017, não nos permitiu entender que nas eleições de 2019 o PS já tinha matado a geringonça, quando rejeitou negociar à sua esquerda. Não quisemos aí iniciar um novo ciclo, sendo oposição plena e viabilizámos erradamente o OE 2020.
E agora, perguntam, mas chumbámos o OE2021 e agora o OE2022, onde está a divergência politica?
É verdade, chumbámos e concordamos nisso (reitero). Demos o sinal necessário (para mudar de rumo era o passo necessário), mas deveria ser acompanhado de autonomização, afirmação politica e cometemos um erro estratégico, a contradição fatal: trocar a afirmação politica autónoma em campanha, por uma narrativa monocórdica a pedinchar por um acordo com o PS (o que ninguém compreendeu, evidentemente).
Assim, a mesma direção que esmagou a democracia interna impondo candidatos, com base na confiança política, por coerência deve ser a mesma direção a assumir por inteiro a falência da sua linha política e a fazer autocritica. O nosso partido tem uma longa reflexão coletiva pela frente, da cúpula à base, e com todos os instrumentos de debate interno que se entendam necessários.
Saibamos estar à altura desse debate, sem sectarismos, pela recuperação da matriz original do partido/movimento, com o contributo de todos e todas, cooperação entre sensibilidades, valorizando as bases para uma construção política de baixo para cima, com uma democracia interna de alta intensidade.
Levantar e afirmar bandeiras, com desafio permanente à esquerda (em baixo), orientando o partido para o aprofundamento do trabalho local, com capacidade de gerar movimento em torno de problemas concretos das pessoas. Estaremos dispostos a isto?
Bruno Candeias