É urgente um novo discurso *

Um discurso que brote das entranhas da terra, das entranhas dos enganados e dos enganos em que o nosso tempo se roeu a si mesmo.

E não é preciso inventá-lo. Esteve presente no evento Fórum Ecossocialismo 2021, no dia 9 de Outubro deste mesmo ano.

As provas dos nossos anteriores enganos, mitigadas com as melhores intenções, encontram-se nos jornais, nos telejornais, assentando praça em lugares comuns, estrangulando a imaginação no depósito de velhos e revigorados pensamentos e crenças que nos vão levar ao suicídio.

Queremos crer que as descobertas de alternativas energéticas amigas do ambiente, como os painéis solares, vão contribuir para salvar o planeta em perigo. Mas veja-se o que verdadeiramente está em causa. Na Quinta da Torre Bela, o massacre de veados, gamos e javalis, fez-se pela valorização do terreno que irá sustentar um grandioso investimento, a construção de uma central fotovoltaica, que fará inveja no espaço da União Europeia e deixará os portugueses orgulhosos do seu país onde a pobreza cresce na razão inversa destes projetos megalómanos que desprezam a terra e tudo o que nela vive e respira.

 Com tanto sol, só quem é parvo é que não aproveita a oportunidade! E os que ficam de fora, assoberbados, pela vida bela dos oportunos vencedores, sente que sendo nada, vale mais abrir a boca de espanto, saudar, aplaudir, esperando proteger-se debaixo do ”mesmo sol”.

O sol que deveria dar-lhes conforto no inverno, com painéis solares cobrindo-lhes os telhados, em vez de cobrirem a terra que quer crescer, a terra que dá alimento.

Conseguimos acreditar que aquela herdade, Torre Bela, foi cenário de uma ocupação por um grupo de pessoas que não tinham terra nem trabalho? Ou não tinham terra para sustento? E que se organizaram-se numa cooperativa? E que coisa semelhante aconteceu em empresas cujos trabalhadores tomaram o poder, “substituindo os patrões ou exigindo participação na gestão”? A ocupação da herdade Torre Bela, 23 de Abril de 1975, programa da RTP Ensina, para o 3º Ciclo, Ensino Secundário.

Hoje, os camaradas de esquerda só têm lamentos e queixas para dar aos deserdados da terra, deserdados das fábricas e vem a comunicação social, os mesmos de sempre para a fotografia, e tudo fica na mesma, porque exatamente o que não querem é que os trabalhadores tomem as rédeas das suas vidas, se organizem e se autonomizem, se assumam como seres humanos de corpo inteiro e não como servidores de causa alheia, mal pagos, para cavarem a sua sepultura, a dos seus filhos, netos e amigos. Os outros, acreditem, não vão estar no mesmo barco.

* Maria da Luz Leonor

2 pensamentos sobre “É urgente um novo discurso *

  1. Claro que a Leonor tem carradas de razão, mas creio que o fundamental não é apenas um novo discurso. O tempo dos discursos está a acabar. O que realmente faz falta é agir e agir agora. E para as massas agirem com eficácia é preciso organização e coordenação. Já se viu há muito que as maiores estruturas sindicais recusam agir. Preferem a comodidade do politicamente correcto e a farsa do faz que anda mas não anda. Como diz o poeta: “Sei que não vou por aí”.

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