Há rios que já não chegam ao mar

Não vou escrever nada sobre a origem da desigualdade, mas começo por informar que há mais de, estima-se, 5.000.000.000 de consumidores queixosos, espalhados por todo o mundo. Pessoas que não são protegidas pelos seus governos e que, contrariando a utopia de Rousseau (1712 – 1778), deverão viver numa economia que terá de alimentar mais de 9.000.000.000 pessoas em 2050 (a comida não pode acabar). Gente como nós!

Para os neoliberais, esta realidade não é problema. Para eles, o que se coloca em cima da terra, a forma como as coisas que lá se edificam produzem, é que têm valor. Para tal gente, a criação de desperdício, a agressão ao ambiente não são problemas deste planeta. Vá-se lá entender… Contudo, a mentira de tais políticas são mapas de desigualdade e de falta de dignidade e de fome e de dor. São mappas habitados, segundo a FAO (www.fao.org), por mais de 820 milhões de desnutridos, vítimas da relação de ordem entre o mundo rico e o mundo pobre.

Segundo as Nações Unidas, após décadas de declínio constante, a tendência de diminuição da fome no mundo (que é medida pela prevalência da desnutrição) foi revertida a partir de 2015, fazendo com que o número de pessoas atingidas pela privação de comida aumentasse desde então. À data, o imenso desafio de atingir a meta do projeto Fome Zero até 2030 parece uma utopia pois, na ressaca do covid, os baixos stocks disto e daquilo e dos cereais levarão tais agentes económicos a especular (stock options), a impor picos de preços que manterão o aumento contínuo e generalizado do nível geral dos preços de todos os bens produzidos pela economia. Se no lado obscuro do globo a população passa fome, no lado de cá “inteligível” as pessoas começam a ficar inchadas e fartas de serem contaminadas com produtos químicos (roundup), com sementes transgénicas (ogm) e salmão em lata; com fruta e vegetais congelados e proteínas em demasia; a apreender que não podem ser inibidas de beber água pura!

Porque há máquinas que extraem água pura para obter petróleo para o fabrico de alimentos (etanol), grande parte da população está a transformar-se num medíocre resultado fabril, que não é mais do que um prenuncio de um desfecho triste por falta de humanidade e criatividade. Nos últimos anos, o mercado, ao impor o consumo desenfreado e uma enorme “pegada ecológica” (criando consumidores virtuais), assente na produção mal distribuída, criou doenças de subnutrição e de abundância e… pior: fez com que a terra deixasse de ter importância!

A verdade é que sem ela nós não podemos viver nem ter a nossa cultura própria milenar; o nosso modo de vida tradicional; que é fundamental para nós. As pessoas precisam de terra com bosque, mato e floresta; de água pura, material reciclável para fazer artesanato e construir espaços públicos, aldeias, vilas e cidades. Necessitam de terra para cultivar o milho, o trigo, a cevada e as verduras, as frutas cítricas, as azeitonas, as uvas e outras culturas necessárias para a sua sobrevivência. Precisam de um sistema ecossocialista, porque é da terra que, com muito respeito, devem tirar o seu sustento. Este, deve ser o único modo de nos relacionarmos com a vida e com todos os seres, pois há rios que já não chegam ao mar.

Luís Mouga Lopes

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.