A composição da Mesa na sua pluralidade é uma garantia de debates vivos e produtivos que certamente terão repercussão na afirmação do Bloco como força empenhada na dinamização do movimento social, particularmente no apoio às lutas dos trabalhadores contra o desemprego e na afirmação e imposição real dos seus direitos.
Pena é que na aprovação do regulamento da Mesa as propostas de reforço da participação plural tenham sido liminarmente rejeitadas pela maioria, trazendo-me à memória um tal “partido de paredes de vidro”.
Os trabalhadores são o motor e o combustível, os heróis e as vítimas, da economia capitalista. Para a eficácia do Bloco como dinamizador do movimento social e das lutas dos trabalhadores é necessário que na sua intervenção contribua para desnudar as características reais do capital, a raiz da exploração e dos seus instrumentos políticos.
As propostas do Bloco no Parlamento e fora dele têm que ser informadas pela crítica radical e explícita do funcionamento da economia e do papel da democracia na naturalização da exploração enquanto instrumento dos interesses globais da finança, por um lado. E, por outro lado, sustentadas na luta dos trabalhadores e orientadas para o seu fortalecimento.
Primeiro há que mostrar como a liberdade de concorrência é um bluff: as oligarquias em última instância apenas disputam o dinheiro público do Estado para, assim, disporem não só das mais valias, dos lucros e dos fundos públicos recolhidos dos impostos cada vez mais pesados sobre os trabalhadores. O Estado como avalista da dívida das grandes empresas públicas e da própria banca.
A União Europeia é a grande gestora, o democrático ditador que impõe as regras que a própria finança já lhe impôs.
Os governos nacionais são dóceis executores amarrados a tratados leoninos em que o próprio princípio da subsidiariedade acabou.
Esta conversa não acrescenta nada ao que já todos sabemos. Mas talvez não faça mal e até seja útil como recordatória.
É que o instrumento em Portugal da autarcia europeia, o instrumento político da finança, é o Partido Socialista.
As contradições e as movimentações políticas não podem ser abordadas dum ponto de vista, digamos assim, topográfico: chega-se à esquerda, chega-se à direita, chega-se ao centro, olhó Chega, etc.
O PSD chega-se porque se viu esvaziado do papel de exemplar executor do neoliberalismo pelo Partido Socialista que é há muito um lídimo representante do neoliberalismo e um fornecedor qualificado de quadros para as grandes empresas e a Banca.
O Rui Rio, coitado, não tem outro remédio senão chegar-se ao Chega.
Portanto toda a táctica do Bloco, sem por de parte a possibilidade de acordos com o PS, não só deve como tem que tornar explícito que o PS não é um partido fiável – o incumprimento dos acordos nos orçamentos de 2019 e 2020, nomeadamente através de cínicas cativações e do bluff como método de negociação – é uma acusação brutal que não pode ser suavizada.
Quaisquer acordos, para os orçamentos ou outros, devem inscrever-se sempre numa matriz de apoio à luta dos trabalhadores, radical ou não, apoio explícito e na própria acção. São eles o esteio de qualquer política de esquerda.
Há que deixar claro, ao contrário do que tem sido feito, que o PS não comete erros. O PS é um determinado executor das políticas que nos conduzem aos tempos da troika.
O PS tem que ser confrontado com a necessidade de usar a Bazuca prioritariamente para a habitação, a educação, a protecção social, contra a precariedade, “desobecendo a Bruxelas” como já foi timbre do Bloco.
A digitalização e a transição ecológica só têm sentido se garantirem mais emprego, reduzirem a jornada laboral para repartir o trabalho. A digitalização, como todos os avanços tecnológicos aumenta exponencialmente a produtividade produzindo “sobre- mais-valia”.
Finalmente aqui e agora antes de tudo há que travar e impedir os despedimentos em curso:
– Na Portway 500 trabalhadores estão obrigados a não renovar contrato
– Na TAP 500 despedimentos
– Na SATA saíram mais de 100 quadros
– Na Eureste (Hotelaria) 116 e mais 146
– A Altice prepara até 2000 despedimentos
– Na banca já dispensaram 600
– No Montepio saíram 241 e sucessivamente sairão mais 600 a 900
– No Novo Banco bem alimentado por dinheiros públicos vão sair 250 por ano até 750
Nos primeiros três trimestres de 2020 houve 584 despedimentos colectivos: 234 por micro empresas; 248 por pequenas empresas; 79 por médias empresas;23 por grandes empresas.
Sob a designação de «Trabalhadores atacados não podem ficar isolados» nasceu e cresceu um movimento de solidariedade com os trabalhadores ameaçados de despedimento que conseguiu algo inédito: ser recebido pelos executivos da CGTP e da UGT que manifestaram o seu encorajamento.
A terminar: vamos conseguir que a comunicação social deixe de ter o PS como referencial de abordagem do Bloco de Esquerda
Mário Tomé
