Morreu um indómito Capitão de Abril
Morreu o Diniz de Almeida. O capitão Dinis de Almeida, oficialmente Coronel de Artilharia Diniz de Almeida.
Se há capitães de Abril que durante a situação revolucionária, vulgo PREC, estiveram sempre no olho do furacão, Diniz de Almeida foi um deles. Direi, mesmo, dos primeiros de entre eles.
Ao Diniz de Almeida se deve, pela sua coragem e ponderação revolucionárias, que a contrarrevolução ensaiada por Spínola e spinolistas não tivesse terminado em tragédia no ataque covarde ao RALIS em 11 de Março de 1975 pelos paraquedistas às ordens do comandante do Corpo de Paraquedista, coronel Rafael Durão.
Ao Diniz de Almeida se deve que a miserável demonstração de despotismo “maoísta” na tortura a Marcelino da Mata por MRPP’s infiltrados no seu quartel, o RAL 1, não tivesse consequências mais funestas.
Ao Diniz de Almeida se deve uma intervenção sempre atempada na dissuasão de actos contrarrevolucionários ou de actos ditos revolucionários na região e na cidade de Lisboa.
Diniz de Almeida pertenceu desde os primeiros instantes ao núcleo duro do Movimento dos Capitães, integrou os principais centros de decisão do Movimento dos Capitães (depois MFA numa decisão que já prognosticava cedência à hierarquia derrotada) quer na vertente de mobilização, quer nas de planeamento e de acção.
Com Otelo e Vasco Gonçalves foi alvo das mais imbecis e brutais calúnias por parte dos que, civis e militares, mesmo que rendidos a uma revolução que lhes trocou as voltas, tiveram sempre no pensamento e no coração um 25 de Novembro que haveria de chegar.

O seu carácter e verticalidade ética assim como o seu desassombro na defesa do que considerava justo e de acordo com os objectivos que desencadearam a Revolução de Abril – o fim da guerra colonial, a defesa da liberdade e responder aos superiores interesses populares – marcaram todo seu empenhamento radical no Movimento e na Revolução.
Tive, ainda jovem capitão empenhado na guerra colonial, a grande honra de comandar o Alferes Diniz de Almeida na minha Companhia de Cavalaria 1601, no Niassa, onde foi colocado para se iniciar na condução prática da guerra de contra-guerrilha. Um grandes profissional e um grande revolucionário. Como eu, aprendeu o suficiente para acabar com ela.
Diniz de Almeida deixou-nos o mais importante acervo documental relativo à conspiração, à execução e desenvolvimento da revolução de Abril: «Ascensão, Apogeu e Queda do MFA», 2 volumes, e «Origens e Evolução do Movimento dos Capitães» ambas as obras das Edições Sociais.
Tchau camarada. Muito te ficámos a dever. Mário Tomé