É inadiável o investimento na ferrovia

A mitigação das alterações climáticas exige uma redução da emissão de gases de efeito de estufa (GEE), com descarbonização rápida da economia. Dados oficiais revelam que Portugal ainda se encontra a 23% de distância do seu objetivo de redução de GEE para 2030.

Ora sabe-se que os transportes são responsáveis pela emissão de uma importante fatia destas emissões. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, “Os automóveis, as furgonetas, os camiões e os autocarros produzem mais de 70 % das emissões globais de gases com efeito de estufa provenientes dos transportes”. Daí a necessidade e a premência de alterar o ordenamento do território, relocalizando atividades económicas e reduzindo as deslocações. E a necessidade de alterar o modo como nos deslocamos, privilegiando transportes coletivos menos poluidores, como o transporte ferroviário.

Hoje, estas conclusões são quase do senso comum. Valem muito particularmente para o distrito de Santarém, onde na órbita da Grande Lisboa vive quase meio milhão de pessoas. Da Lezíria e do Médio tejo, milhares de ribatejanos deslocam-se para trabalhar na capital e em zonas periféricas, em movimentos pendulares diários. Segundo o Mirante, só em 2019, com a aplicação do Programa de Apoio à Redução Tarifária (PART), “ a procura do transporte ferroviário no Médio Tejo cresceu mais de 40% e a venda de títulos ocasionais subiu 43%”

Neste contexto, às considerações de ordem ambiental acrescem as legítimas exigências de um sistema de transportes públicos que garanta acessibilidade, segurança e conforto. Um sistema de transportes públicos que é, aliás, um imperativo constitucional.

Por todas as razões, para esta região (como, aliás, para o país) é essencial a promoção do transporte ferroviário, assegurando circulações frequentes, a baixo preço, suportadas numa infraestrutura ferroviária funcional e moderna.

A esta luz é inaceitável que tenha desaparecido das intenções do governo a requalificação e alteração do traçado da Linha férrea do Norte, entre Vale de Santarém e o Entroncamento. O investimento nestes quarenta quilómetros de via estava planeado desde o início de 2019.

Também é incompreensível que a estação ferroviária do Entroncamento continue anacrónica, sem modernização à vista. Ainda que seja a estação que mais passageiros movimenta, fora dos grandes centros urbanos nacionais.

Percebe-se bem a frustração que o cancelamento deste investimento estruturante provoca nas populações e nos autarcas .

É certo que, segundo levantamento do jornal Público, também no plano nacional os investimentos na ferrovia estão muito longe de cumprir o plano fixado: só 5% dos quilómetros previstos no Ferrovia 2020 estão concluídos. Mas a exclusão pura e simples de planos de investimentos na ferrovia no distrito de Santarém evidencia o reiterado desprezo dos governantes pela região.

Carlos Matias

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