Cruzei-me com o Miguel Portas muitas vezes. Conversámos algumas vezes, participámos juntos em algumas acções do Bloco de Esquerda. A última vez que estive com ele foi num mês de Janeiro, no café Ceuta, na cidade do Porto, numa “conversa de café” sobre a Europa, crise e democracia.
Dele guardarei para sempre o seu sorriso, o mais belo, doce e pleno sorriso que eu já vi. Como disse Fernando Seara, “tenho a certeza que morreu a sorrir “.
Perdemos todos um militante invulgar. O Miguel queria a vida em abundância. Vivia a política com amor e com prazer, com sentido de missão e nunca como um sacrifício. Partiu como sempre viveu, a lutar.
Não tive o privilégio de ser sua amiga, estou certa que o Miguel nem sabia o meu nome. Os que tiveram esse grande privilégio, perderam um grande amigo.
O Miguel morreu no dia 24 de Abril, uma semana depois era o 1º de Maio, dia do seu aniversário.
Nesse ano o 25 de Abril foi mais triste, o Miguel não pôde vir à festa connosco.
Mas, nós estivemos lá, a cumprir Abril, com a grande força que Abril nos deu = A LIBERDADE = de podermos continuar a sonhar, a cantar, a lutar.
Hoje e sempre, viverei Abril como um dia de festa, uma festa feita de muitas cores e de muitas palavras.
Porque Abril diz-nos “ tu sozinho não és nada “.
Porque Abril diz-nos “ eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida “.
Porque Abril diz-nos “ há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não “.
Ao Miguel eu gostava de dizer “ não há parede que retenha o voo daqueles que ousam sonhar “.
* Elisa Antunes
