Aproximam-se as eleições autárquicas, primeiro patamar de decisão coletiva, se assim quisermos designar a importância dos órgãos autárquicos na vida política. É óbvio, o que em primeiro lugar liga as pessoas aos assuntos de todos é o que se passa no seu bairro, na sua aldeia, vila ou cidade. O que se passa na sua empresa, na sua escola, universidade, na sua coletividade, círculo de amigos, é o que as une e mobiliza na organização de uma atividade comum.
Isso é a vida real das pessoas, o seu dia a dia. Lisboa ou o Porto ficam muito longe, porque aumentam essas distâncias propositadamente. Distantes ficam os deputados, o parlamento, os ministros, o governo, quem nega isto ou não lhe dá importância é porque está numa redoma por si construída ou nunca saiu do aconchego da sua cátedra.
Assim sendo é de primordial importância o Bloco de Esquerda estar junto às populações e às várias formas de organização económica, social, cultural. Caso contrário, a sua importância e real capacidade de influência política é fugaz, dependendo de momentos ou de conjunturas e de jogos de oportunidade. Se dúvidas houve bastaria olhar para o partido do governo, que tem núcleos, concelhias, distritais por todo o território nacional, conseguindo assim intervir em todos os momentos e sobre todos os assuntos, da simples questão de um lavadouro público ao problema mais complexo.
O elemento essencial de organização do Bloco de Esquerda, como partido movimento que luta pela transformação da sociedade e por uma sociedade ecossocialista tem que ser o núcleo: núcleo de localidade, empresa, coletividade, escola, etc. É aí que o aderente desenvolve o seu trabalho político e é conhecido pela população que o circunda.
As Comissões Coordenadores Concelhias e Distritais não podem ser o aglomerado nebuloso que hoje são, de um número substancial de aderentes que apenas executam orientações vindas de cima, fechadas e burocráticas, sem ligação à vida e às realidades e necessidades reais da base. Sem iniciativa própria e ligação aos problemas concretos.
Neste quadro os aderentes transformam-se apenas e só em votantes, quando o órgão acima lhe solicita o voto, ou meros executantes do decidido, sem serem tidos nem achados. Isto é o paraíso de poucos e a apatia geral de muitos.
* Higino Maroto
