Autárquicas: o problema está a montante

A próxima batalha Autárquica que se aproxima deve, não só colocar no centro da proposta política o combate à crise social, ambiental e económica que se agravou com a pandemia, como deve ser um momento de reforço do nosso movimento, devemos ser capazes de transformar eleições em enraizamento e organização.

É sabido, e não será novidade para ninguém que historicamente as eleições Autárquicas são de uma especial dificuldade para o Bloco de Esquerda, onde se obtêm resultados baixos ou se elegem uma dúzia de vereadores. As razões são várias, contudo gostaria de deixar algumas pistas para aprofundar o debate, que considero só ser útil se feito a montante:

Lei Eleitoral Autárquica

O actual modelo de eleição dos órgãos autárquicos coloca imensas dificuldades à eleição de vereadores, sendo para isso indispensável existir uma única eleição para a Assembleia Municipal (onde se expressa com mais pluralidade o voto popular) e o executivo emanar da sua composição e correlação de forças, ao mesmo tempo que a própria Assembleia Municipal deve ser reforçada de poderes de fiscalização, tornando-se o verdadeiro parlamento local. Democratizar a política local é urgente!

Trabalho local

Para crescer na base, temos que valorizar as estruturas e a discussão em baixo, gerar pensamento crítico e superar uma visão das bases meramente instrumental e executora de tarefas. Sem dotar as estruturas de real autonomia política e financeira, fomentando a iniciativa própria, ficaremos condenados a uma disputa institucionalista, quer nos órgãos locais quer no parlamento. Aliás, o enraizamento local só pode acontecer efetivamente, quando percebermos o erro que é controlar a organização de cima para baixo, e excessivamente centrada no parlamento, arriscando tudo na volatilidade do voto e consequente força da bancada parlamentar. Esta é uma opção que o nosso partido/movimento deve clarificar. Todo o poder às bases!

Proximidade

Um dos instrumentos básicos para a disputa política em baixo é o conhecimento da realidade local e das populações onde se actua, os seus problemas e anseios. A ligação orgânica às populações é fundamental, os movimentos sociais, organizações de moradores, sindicatos, o associativismo … são o pão para a boca da nossa disputa.

Certo, que não a devemos esgotar aí, mas aliando-a a uma linha política bem definida, à construção de uma rede capaz de criar fluxos de informação local e à criação de núcleos de freguesia ou temáticos, serão certamente passos acertados. Um pouco mais de pragmatismo!

Apoiar eleitos

Tantos e tantos, são os casos de eleitos nos vários órgãos Autárquicos que são completamente esquecidos e colocados durante o mandato à sua própria sorte, dependendo unicamente do seu voluntarismo, contrastando com algumas autarquias de maior visibilidade onde se reforça o apoio (por puro mediatismo), mas de forma deficitária, uma vez que se olha para a intervenção autárquica como a única ou essencial ação local, e o correcto deveria ser o autárquico como decorrente da ação política local nas questões ambientais, da habitação, dos transportes, das discriminações, da qualidade de vida e dos direitos sociais das pessoas, entre outras. Se os eleitos ou as discussões nas assembleias forem o centro da disputa, tendemos a esvaziar o trabalho local, como aliás se verifica, sendo, portanto, urgente alterar esta visão, colocando os eleitos como o complemento para um trabalho local mais robusto. Trabalho autárquico ao serviço da intervenção política local!

Pensemos nisto…

Bruno Candeias

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.