As crises não atingem todos por igual. A crise provocada pela pandemia de Covid -19 não é excepção e entre os grupos mais vulneráveis estão as mulheres. Assim nos esclarece a presidente da CIG (Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género) que alertou que a pandemia tem afectado mais as mulheres do que os homens.
Se as mais velhas, pela sua maior longevidade em relação aos homens, são as mais numerosas nos lares e por isso as que sofrem riscos acrescidos nestas instituições, é nas mais novas que se registam uma maior precariedade de emprego e trabalhos menos qualificados e mal pagos.
Também sobre elas existe uma maior exposição ao vírus pela necessidade de fazerem deslocações em transportes públicos onde não é possível o distanciamento recomendado, nas linhas de caminho de ferro, nos catamarãs ou autocarros. Pertencem, por isso, ao grupo dos mais infectados.
No que se refere aos despedimentos são as mulheres que mais sofrem este flagelo, devido muito aos seus compromissos familiares, contribuindo para o grande aumento das taxas de desemprego.
Por outro lado, em situações de confinamento, quando as escolas e infantários fecham e os pais ficam em casa em teletrabalho, é ainda às mulheres que cabe uma maior sobrecarga, pelo cuidado com as crianças e as lides domésticas, dificultando a conciliação entre a vida familiar e profissional.
Embora em alguns sectores da população as mentalidades tenham evoluído, as tarefas domésticas ainda não são, no geral, igualmente partilhadas entre os progenitores.
E se há um membro do casal que tem de abdicar do seu emprego, será, na maior parte dos casos, a mulher, seja pelo salário menor que aufere, seja porque tradicional e culturalmente ainda prevalece a maior valorização do trabalho dos homens.
A acrescentar ainda que a maior parte dos cuidadores são mulheres. Sobre elas recai o cuidado com os mais velhos e pessoas com deficiência.
Sem um apoio do Estado às famílias, a nível dos cuidados geriátricos e sociais, ou de aceitação de que o cuidado com as crianças é uma tarefa necessária que diz respeito a toda a comunidade e não motivo de agravamento de tensões familiares, sobrecarga das mães e, muito menos, causa de despedimentos ou despromoções, nunca teremos uma sociedade mais justa e feliz.
Por outro lado, temos de ter a certeza de que é necessário educar para a igualdade desde tenra idade, desmontando a ideia de que os meninos brincam com carros, as meninas às casinhas. É necessário que as nossas escolas defendam uma educação igualitária e se derrubem estereótipos de género. Defender que não há áreas vocacionais para raparigas e outras para rapazes. As mulheres professoras e cuidadoras, os homens economistas, engenheiros, maquinistas.
O governo tem de defender e apoiar os mais desprotegidos, com políticas sociais para que as desigualdades se atenuem, nomeadamente em períodos de confinamento.
Maria Jorgete Teixeira