Marisa Matias tem de ser o último rosto daquilo que o Bloco de Esquerda teima em manter-nos e em manter-se, espero eu. Apoiei Marisa Matias por muitas razões, distintas até, desde logo por dizer “Presente” nas lutas necessárias de Amarante, depois porque é gente de verdade, porque é competente ao contrário de muitos e, por último, porque é do meu partido.
Partido que está a ser levado para um caminho sem saída, por meia dúzia de dirigentes que pensam que mandam nisto tudo, ou mesmo que pensam que são os donos disto tudo. Se não vejamos, a candidatura de Marisa Matias começou mal por três razões:
Em primeiro lugar, foi imposta pela direção do partido, não havendo discussão interna com as bases e militantes, se apresentávamos candidatura própria e, se sim, quem se alinhava na frente;
Depois, é eurodeputada eleita e em funções o que, no meu entender, ou se está num lado ou no outro, sempre defendi isso;
Por fim, defendeu uma agenda gasta e sem conteúdo, fruto da política do partido nos últimos anos e da colagem ao Partido Socialista, quando já há muito se sabe que o futuro passará por uma agenda ecossocialista, que esteja ligada às bases e ao povo, e não uma agenda assente na partilha do apoio de meia dúzia de “figuras públicas” e de uma agenda sem conteúdo; os comícios virtuais parece que chegaram a milhares de pessoas, mas perdemos cerca de trezentos mil votos.
O partido ao não discutir internamente as presidenciais, teve como consequência que ficássemos reféns de uma hipotética não-candidatura do Partido Socialista, com falta de uma agenda que pudesse derrotar a extrema-direita e que ao mesmo tempo respondesse aos problemas de base da sociedade. Só assim faríamos o pleno e não obteríamos o resultado curto do passado dia 24/01. As pessoas querem respostas concretas, soluções eficazes e representantes coerentes.
O Bloco de Esquerda, que sempre marcou a diferença e em tempo útil, caiu. E se dúvidas houvesse para alguns que o PS só pensa em si e nos seus resultados, nestas eleições ficou tudo claro.
Reitero, Marisa Matias é uma das melhores políticas que o País tem, não há dúvidas disso, nas presidenciais de 2016 provou-o em resultados porque estava suportada num programa capaz, só que nestas últimas simplesmente não estava lá e aí a culpa não morre solteira.
Todos sabemos, a política não pode passar só por 2 ou 3 individualidades, mas sim no seu todo, a política é e será sempre um coletivo. O partido também pertence a todos os militantes, a todos aqueles que ainda querem ter voz e dar voz ao povo.
* João Carvalho

Embora o João esteja certo em quase tudo, há um ponto fundamental que ele omitiu. Quando a Marisa se declarou oficialmente social-democrata, distanciou-se de imediato de toda a esquerda realmente progressista e colou-se ao regime, ao situacionismo. Esta contemporização e colaboração com o status quo que o BE tem crescentemente protagonizado, só pode afastar cada vez mais todas aquelas pessoas que exigem um outro caminho. Esta aproximação ao poder tem custos elevados e o BE está a pagá-lo bem caro. Futuramente vai pagar ainda mais. O divórcio bases vs elites acentua-se.
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Concordo em absoluto. Tanto que estou a equacionar a minha desfiliação ao fim de 20 anos.
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O caminho é lutar para que o Bloco ganhe novas condições para assumir o papel político que lhe deu origem. Não desistimos.
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Não há abertura para ouvir as bases. Os donos disto tudo acham que sabem tudo.
Levam luvas, pedras e mais que outros para convenções mas grande parte não sabe o que é trabalho…
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