Má sorte a de Ihor Homeniuk

O que se passou em todo este processo do assassinato do cidadão ucraniano é de uma gravidade extrema. Num país que se assume como defensor dos direitos humanos, um país que há 47 anos se viu livre de um regime fascista onde os esbirros da PIDE torturavam e matavam, é lamentável que se assista impávido ao desenrolar deste drama, quando outros assuntos de muito menor dimensão são por aí badalados com estrondo.

Uma estrutura que deveria servir para acolher e tratar dos casos de estrangeiros que cheguem a Portugal, com civilidade e humanismo, torture um homem e o deixe abandonado à sua sorte, amarrado e ferido até sucumbir, que saibam do caso e tenham sido cúmplices pelo silêncio 12 pessoas, faz-me pensar em quão vã é a indignação dos que acham que se exagera quando se diz que no país não existe racismo, nem discriminação e somos os “de brandos costumes”.

Quando, descoberta a morte e a implicação de 3 inspectores do SEF, estes são enviados para casa em “doce” prisão domiciliária, quando só passados 9 meses a directora do SEF é demitida e ainda assim com a justificação de que o é  por “reestruturação dos serviços”, quando um ministro se desculpabiliza pela sua responsabilidade e ainda vem fazer figura de “coitadinho, só e abandonado”, que se poderá pensar deste governo, deste país?

Ihor Homeniuk foi assassinado a 12 de Março no Aeroporto de Lisboa por 3 inspectores do SEF. Nove meses se passaram até serem desvendados os pormenores da execução. Porque é disso que se trata. O cidadão ucraniano é sovado, amordaçado, despido, deixado amarrado a uma cadeira para morrer.

A mulher não terá sido ajudada, não se lhe pediu desculpa, não se ajudou na trasladação do corpo.

Todos lavaram as suas mãos.

Informa-se agora que, como medida preventiva, se irá accionar, nas divisões, um botão de alarme para que alguém em apuros possa pedir ajuda. Pasme-se! Num serviço que teria por função defender os cidadãos, coloca-se ao dispor das possíveis vítimas um mecanismo para se defenderem dos próprios funcionários do SEF.

Mesmo perante rumores de que outro caso se teria passado, não se reflectiu sobre o tipo de recrutamento que se faz nestes serviços, a formação que se dá.

Onde se exige que o Estado assuma a responsabilidade pelo que se passou? E os partidos dormem sobre isto? Limitam-se a tomadas de posição brandas e de circunstância? E o Presidente da República, não é ele o dos abraços e dos afectos? Quem olha para aquela mulher destroçada, para aqueles filhos sem pai, para a gente que procura um país onde possa viver melhor e encontra torcionários à sua espera?

Má sorte a de Ihor Homeniuk ao ter escolhido Portugal para mudar de vida.

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