A resposta da União Europeia à crise das dívidas soberanas e à crise pandémica vem provar que a Europa dos tratados não serve o interesse dos povos da Europa, levando muitos a afirmar que voltou o tempo das soberanias nacionais. Devemos, no entanto, duvidar, se a resposta está nos estados nacionais, apesar de não podermos negar que estes são, neste tempo, entidades muito mais sujeitas ao controlo democrático do que a União. Mas os chamados estados soberanos sofrem de pelo menos dois defeitos dificilmente ultrapassáveis, a saber:
Não são sinónimos de democracia — veja-se os casos da Hungria e da Polónia se não mesmo de todos os estados do grupo de Visegrado.
Subsistem na Europa múltiplas nações sem estado. Aliás, o estado português é dos povos da Europa que não é plurinacional nem multilíngue, pois a língua Leonesa falada nas terras de Miranda foi exterminada em nome do estado nacional.
As nações europeias são múltiplas e variadas! A soberania que interessa promover é a soberania popular! Num quadro de estados nacionais ou plurinacionais é possível construir alianças tendo em vista a autodeterminação dos povos e dos indivíduos.
Não há, de facto, uma nação europeia, como não há uma nação ibérica! Veja-se que a velha proposta de uma república federal ibérica não está na ordem do dia. Tal deve-se mais a séculos de nacionalismo hegemónico castelhano e aos mitos nacionalistas lusitanos do que à falta de sentimento ibérico dos povos que aqui vivem. Do mesmo modo, a entidade europeia, nascida da Grécia antiga, e construída apesar das guerras infindas que viveu o continente, é um sentimento forte que não devemos menorizar, pois nele reside o melhor antídoto para a guerra.
Falhada a União dos tratados, é o momento de avançar com a utopia da Europa dos Povos e dos Cidadãos. Se das crises podem emergir novas e velhas formas de totalitarismo, pode, também, emergir o Socialismo, ou pelo menos o reforço do papel do estado na economia, e uma nova correlação de forças que imponha uma séria derrota ao neoliberalismo, o que não seria coisa pouca.
José Moreira