Não se iludam! A quadrilha neoliberal não vai mudar o seu estilo de dança após o flagelo do Covid-19. Os mais de seis triliões de dólares injetados na economia americana e os outros todos introduzidos por pressão no resto do mundo servirão, apenas, para reinventar um sistema que há muito faliu: o capitalismo.
É verdade que foi devido ao desenvolvimento da metalurgia e da agricultura, à construção de navios e à força produtiva e à influência das novas ideias religiosas, que a Europa ressuscitou no século XV. Não tenho dúvidas que o sucesso do Ocidente se deveu, também, ao facto dos Estados de então se terem aberto à ciência, ao comércio e à liberdade pessoal, pois grande parte das sociedades de então deixaram de ser esclavagistas. Contudo, gerou-se a ideia do individualismo, compatível com a doutrina sobre a liberdade e a salvação pessoal. O Cristianismo, que nunca esteve preocupado com as pessoas, criou interesses e desconfianças que levaram os povos crentes a confrontar leis e a transformar a natureza sem limites. Não surpreende, portanto, que o planeta esteja doente e que o pecado seja um assunto pessoal.
Um dos problemas do capitalismo, para além dos outros todos, é a degradação ambiental, resultado da produção em massa e do consumo exacerbado na mesma proporção que tem permitido que poucos criem riqueza em demasia e se apropriem do património de muitos. De uma forma geral o aquecimento global, a elevação dos oceanos; todas as mudanças climáticas e todos os tipos de vírus maus são causas de um sistema económico que deverá ser aniquilado.
Não defendo que os mercados devam ser estritamente fechados, nem tão pouco que o sejam severamente regulados pelo Estado. Apenas apelo a uma economia pensada para as pessoas e empresas, com regras e determinação. Aliás, numa sociedade igualitária, as pessoas não necessitarão de um Estado imenso e corrupto, pois sentirão, naturalmente, forte responsabilidade pela conservação do Planeta, pela produção e administração dos bens.
Uma coisa é certa: devido à gula e preconceitos exacerbados para com o coletivo, bem enraizados nas atitudes e comportamentos das pessoas de hoje, o globalismo do mundo criou um sistema que tem derrubado democracias e gerado o pânico. A evolução instável do capitalismo gerou duas guerras mundiais, inúmeras guerras e conflitos localizados que alimentam recessões duradouras, fazendo com que alguns Estados se mantenham de pé e que outros se afundem. Tais mudanças, para além de trágicas, causam sobressaltos éticos e morais nas sociedades e, para pena minha, pouca reflecção no seio dos partidos do poder.
Foi preciso ter medo para que Marcelo, Costa e Rio afirmassem que a banca não pode ganhar dinheiro com a crise do coronavírus. Não há nada que os atormente mais do que pôr em risco a sobrevivência do ser humano. A subsistência deles… Por tudo isto, deixo o alerta: não esperem o surgimento de um “demiurgo”, criador de um novo mundo através das trevas, pois “também isto passará”. Daqui as uns dias, após todas as palmas e cantorias e ações de caridade mútua, os serviços públicos perderão o palco político e os agentes infeciosos do costume serão novamente louvados.