Pandemia: o lado do avesso – por Luís Pereira

A vida não pára. E esta pandemia não pode servir para nos aquietar num unanimismo acrítico. Bem pelo contrário, os desafios que nos coloca devem ser enfrentados com espírito crítico e esperança.

Deixo de lado o meu incómodo com o discurso dos nossos governantes sobre a guerra que vivemos ou a sua desumana preocupação com a economia. Pode alguém ser quem não é? O capital quer salvar … o capital.

Acho mais interessante olhar para o lado de cá. O do avesso. Mais humano e utópico. Sim, isso mesmo, utópico! Afinal a utopia é apenas aquilo que ainda não existe… mas é possível! Amanhã ou depois. E então será real, concreta. Útil e Boa. Os grandes progressos humanos começam por ser utopias. E nós, à Esquerda, sabemo-lo! É por isso que teimamos, insistimos, lutamos e, até, ganhamos.

Vem esta defesa da utopia a propósito do que vai acontecendo nas escolas.

Declarado o fecho das escolas a tutela, os sindicatos parecem ter adoptado em uníssono o mesmo slogan: “os professores não estão de férias”. Pareceu-me desajustado e até ofensivo. Então, qual a necessidade desta afirmação tão peremptória? Por ventura, os professores ficaram de férias? Queriam estar de férias? Uma outra coisa, totalmente diferente, seria ter proclamado: os professores continuam a trabalhar! Como dantes. Como sempre.

O Ministério da Educação não esteve, não tem estado, à altura das circunstâncias. Veja-se o seu discurso titubeante quanto ao fecho das escolas. E os senhores directores, como bons e eficientes cumpridores de ordens que são, face ao desnorte e desorientação da tutela, nalguns casos, parecem ter ficado expectantes, hesitantes, incapazes quanto às medidas a tomar. Há desaparecidos em combate nesta dita guerra?

Neste contexto, pelo que me apercebo, têm sido os professores que paulatinamente tentam manter a funcionar a “escola”. Face a uma escola pública que não tem recursos informáticos adequados, são os professores quem a partir de suas casas, com os seus próprios recursos, tentam levantar a rede de contacto com os seus alunos. Procuram ferramentas adequadas, com tacto vão explorando possibilidades, e cooperando. Conscientes das limitações. Na minha vila nem todos temos acesso a um computador – sim, bem-vindos à minha vila! Enquanto isto a tutela espera orientações da tutela. E, pelos vistos, os professores podem trabalhar e organizar-se sem ordens superiores da tutela. Utopia, não é? É. Era.

Bom seria que, passada a tormenta, guardássemos memória desta Utopia. E recusássemos uma narrativa escrita pelos detentores do poder. E quando os senhores directores vierem dizer-nos quais são as regras, quais são os procedimentos, quais os resultados a apresentar e acenarem com dissimuladas sanções – repetição insana de reuniões ou horários penalizadores, por exemplo. Então, haja memória da Utopia. Tenhamos esperança. E alguém lhes diga: podemos ter uma outra escola sem o autoritarismo dos Directores. Melhor!

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